Em menos de 5 meses, Acre registra 150 novos casos de hanseníase e alerta inclui crianças

Ministério da Saúde aponta o Acre como o 8º Estado em número de casos: 16,26 casos a cada grupo de 100 mil habitantes

O coordenador regional do Morhan (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase) no Acre, Elson Dias, alertou nesta terça-feira (13) para o aumento da doença entre a população acreana, principalmente entre crianças e adolescentes. A hanseníase é uma doença infecciosa e contagiosa, caracterizada por sintomas como manchas na pele, sensação de formigamento, fisgadas ou dormência nas extremidades. Ela atinge inicialmente a pele, os olhos, o nariz e a garganta, podendo causar sérias incapacidades físicas nos pés e nas mãos.

Elson Dias informou que, do ano passado até esta primeira quinzena de maio de 2025, foram registrados pelo menos 150 novos casos da doença no Acre.

“Na última semana, cinco crianças e adolescentes chegaram até nós e, após encaminharmos para exames médicos, infelizmente os testes deram positivo”, disse o coordenador, ao alertar para a necessidade de os poderes públicos e os sistemas de saúde estadual e municipal prepararem profissionais para os atendimentos e diagnósticos precoces. “Quanto mais cedo a doença for diagnosticada, maior é a chance de cura”, acrescentou.

Elson Dias é coordenador do Morhan no Acre/Foto: Reprodução

Dados do Ministério da Saúde apontam que o Acre tem a oitava maior taxa de casos de hanseníase a cada 100 mil habitantes no país, com prevalência nos municípios de Rio Branco e Cruzeiro do Sul, os mais populosos do estado. Os mesmos dados indicam que o Acre tem 16,26 casos por 100 mil habitantes, índice que coloca o estado na quarta posição na região Norte e acima da média nacional, que foi de 9,67. Em 2023, o estado apresentou redução nos casos, mas o número seguiu acima de 100. Nos dois últimos anos, já são mais de 150 casos — o estado com maior taxa foi Mato Grosso, com 66,20 casos por 100 mil habitantes.

Em 10 anos, o Acre também teve redução nos casos novos. Em 2013, foram 137 novas confirmações, contra 135 em 2022, o que representa uma queda de 1,4%. Nesse período, o pico de confirmações foi registrado em 2014, com 141 casos. Entre 2022 e 2023, o Acre teve uma redução de 22% nos casos de hanseníase, de acordo com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação, divulgados pela Vigilância Epidemiológica da Hanseníase do estado.

No ano passado, o total de pacientes confirmados ficou em 111, alcançando o terceiro ano seguido com mais de 100 casos. Em 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19, foram registrados 86 casos. Em 2021, o número subiu para 109 e voltou a crescer, chegando a 143 em 2022.

A Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) ressalta que a falta de informação ainda é um dos principais obstáculos no combate à infecção. Essa é uma das questões abordadas por campanhas como o “Janeiro Roxo”, que busca conscientizar sobre a hanseníase.

Nas décadas de 1940, os portadores da doença eram caçados como bichos e internados à força em colônias, onde passavam a viver isolados, inclusive de seus familiares. Um decreto assinado pelo então presidente general Eurico Gaspar Dutra, em 13 de janeiro de 1949, determinava o isolamento compulsório dos portadores de hanseníase. O documento, composto por 34 artigos, revelava uma verdadeira caçada aos doentes.

Na época, a doença — ainda chamada de lepra — fazia com que os pacientes fossem perseguidos e afastados da sociedade. Toda essa perseguição só terminou após 30 anos, na década de 1980. “É obrigatório o isolamento dos casos contagiantes de lepra”, enfatizava o artigo 7º do decreto. Ao longo do texto legal, havia medidas ainda mais radicais, como a separação forçada de filhos de pais acometidos pela doença.

O Estado localizava os doentes por meio de denúncias da própria comunidade. Com medo, muitos fugiam para a mata, iniciando uma verdadeira caçada humana, segundo o Morhan.

“A comunidade era pequena, e a época era de seringueiros. Tinha o chefe do barracão, chamado de patrão. Quando aparecia uma pessoa com sintomas, o próprio patrão denunciava e ela tinha que sair da comunidade. Se resistisse, era caçada com cachorros. Os pacientes tinham medo, sabiam que seriam isolados”, conta Elson Dias.

O coordenador afirmou que é preciso maior ação do poder público para impedir o surgimento de novos casos. Ele citou como exemplo a Estratégia Nacional para o Enfrentamento à Hanseníase do Ministério da Saúde para o período de 2024-2030, elaborada em oficina representativa, com metodologia participativa e que incluiu os principais interessados na temática: gestores dos três níveis de governo, das áreas técnicas de vigilância.

Como parte da estratégia, segundo Elson, estão as oficinas de capacitação de profissionais de saúde para a busca do diagnóstico precoce da doença, com foco também em pessoas com deficiências decorrentes da hanseníase, além da atuação de movimentos sociais e centros de referência.

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