A escola no curral: o retrato de um Brasil que ainda insiste em abandonar o campo
Mesmo em 2025, crianças do Acre seguem estudando em condições indignas, escancarando a falência das políticas públicas para a educação rural
Em um domingo marcado por fortes imagens e denúncias, o programa Fantástico, da TV Globo, trouxe ao conhecimento nacional a realidade da Escola Limoeiro, na zona rural de Bujari, no Acre. Em pleno 2025, estudantes ainda frequentam aulas em um curral, sem paredes, sem piso e sem água encanada — um espaço completamente inadequado para qualquer atividade humana, quanto mais para o ensino de crianças em formação.
A cena choca, mas não surpreende quem conhece a rotina de comunidades rurais brasileiras. A precariedade nas escolas do campo não é novidade. O que surpreende é a persistência dessa negligência, mesmo após décadas de promessas, planos nacionais e discursos sobre inclusão e equidade educacional.
A invisibilidade das escolas rurais
A reportagem exibida no domingo, com cerca de oito minutos, não apenas expôs as condições da escola em Bujari, mas também simbolizou a invisibilidade estrutural das escolas rurais no Brasil. Falta investimento, falta planejamento e, acima de tudo, falta vontade política para resolver o problema na raiz.
Enquanto os grandes centros urbanos discutem inteligência artificial nas escolas, conectividade 5G e ensino bilíngue, milhares de crianças no interior do país convivem com o barro, o calor escaldante e a ausência de materiais básicos. A distância geográfica é acompanhada por um abismo de oportunidades.
Educação de qualidade: um direito seletivo?
A Constituição Brasileira garante o acesso à educação de qualidade como um direito de todos. Mas na prática, esse direito tem endereço. Quem nasce no campo, em especial nas regiões mais afastadas da Amazônia Legal, parece não fazer parte do Brasil que aparece nas propagandas institucionais.
O caso da Escola Limoeiro é simbólico porque rompe o silêncio em torno de uma realidade incômoda: a educação rural ainda é tratada como uma política de segunda categoria. Professores mal remunerados, falta de transporte escolar, estruturas improvisadas e currículos desconectados da realidade local são apenas parte do problema.
O que fazer?
Não se trata apenas de reformar uma escola ou construir um prédio novo. É preciso reconhecer a educação do campo como parte essencial do projeto nacional de desenvolvimento. É necessário criar políticas públicas sustentáveis, com investimento contínuo, acompanhamento técnico e diálogo com as comunidades locais.
Valorizar a escola do campo é valorizar a diversidade, a soberania alimentar, a cultura regional e a preservação ambiental. É garantir que crianças como as da Escola Limoeiro tenham as mesmas chances de sonhar, aprender e transformar suas vidas como qualquer outra criança brasileira.
O Brasil precisa decidir se continuará aceitando que parte de seus cidadãos cresça estudando em um curral, ou se finalmente vai assumir a responsabilidade de dar dignidade, respeito e estrutura para quem vive no campo.
Porque o futuro não pode esperar. E ele começa na sala de aula mesmo que, por enquanto, essa sala seja de chão batido e sem paredes.