A pesquisa, que integra esforços de instituições locais e nacionais, tem como foco identificar os vetores responsáveis pela disseminação da doença
Pesquisadores da Fiocruz deram início a um estudo que busca compreender a dinâmica da transmissão da malária em áreas de alta incidência nos estados do Amazonas, Rondônia e Acre. A pesquisa, que integra esforços de instituições locais e nacionais, tem como foco identificar os vetores responsáveis pela disseminação da doença e propor estratégias eficazes de controle e prevenção.
No Amazonas, a investigação será conduzida no município de Tefé, situado a cerca de 633 km de Manaus por via fluvial. Com registros contínuos ao longo do ano, a cidade é considerada uma zona endêmica, com transmissão urbana e rural da malária. “É possível dizer que todos os 73.669 habitantes estão em risco de contrair a doença”, afirma a pesquisadora da Fiocruz Amazônia, Claudia Maria Ríos-Velásquez. A pesquisa será realizada em parceria com a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS) e a Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM).
Em Rondônia, os estudos se concentram na região da Bacia Leiteira, localizada na divisa entre Porto Velho e o município de Candeias do Jamari, uma das principais áreas de circulação da malária no estado. A atuação local conta com o apoio do Departamento de Controle de Zoonoses (DCZ), do Departamento de Vigilância em Saúde (DVS) e da Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa/Sesau).
No Acre, a pesquisa será realizada na zona rural de Cruzeiro do Sul, cidade a 635 km de Rio Branco, que concentra 50% dos casos da doença no estado.
A Zona Rural de Cruzeiro do Sul será analisada pelo estudo/Foto: Diego Silva/Secom
No Acre, o estudo é liderado pelo pesquisador Rodrigo Medeiros Martorano, do Laboratório de Doenças Infecciosas na Amazônia (LabDINAMO), da Universidade Federal do Acre (UFAC). Ele destaca que a principal barreira para o controle da doença na região é o acesso às comunidades afetadas. “A malária é predominantemente rural e afeta áreas recém-desmatadas, onde as políticas públicas de saúde muitas vezes não acompanham o avanço da ocupação”, explica.
Intitulada Dinâmica da Transmissão da Malária na Amazônia: influência das intervenções de controle em áreas endêmicas, a pesquisa foi aprovada por meio da Chamada CNPq/MCTI/FNDCT nº 19/2024, dentro do programa Pró-Amazônia. O objetivo principal é identificar os mosquitos transmissores da doença, entender seus hábitos e avaliar como esses fatores influenciam a manutenção dos casos nas áreas estudadas.
A primeira fase do estudo, iniciada em março, envolveu o levantamento sociodemográfico das populações locais, incluindo número de moradores e perfil socioeconômico. Na segunda etapa, será feito o monitoramento vetorial, com coleta de mosquitos e acompanhamento mensal, para identificar horários de maior atividade, locais de transmissão (interna ou externa às residências) e presença do parasita da malária nos vetores.
Segundo Maísa Araújo, uma das coordenadoras do estudo em Porto Velho, as próximas etapas incluirão ações educativas com as comunidades, distribuição de mosquiteiros impregnados com inseticida e implantação de testes rápidos para diagnóstico. “A participação da comunidade é essencial em todas as fases da pesquisa”, reforça.
Jansen Fernandes de Medeiros, coordenador geral do projeto pela Fiocruz Rondônia, ressalta a importância da colaboração entre as instituições envolvidas. “Este esforço conjunto permitirá esclarecer aspectos cruciais sobre o cenário epidemiológico da malária em regiões vulneráveis da Amazônia, onde o conhecimento ainda é limitado”, conclui.
Passo importante
Nesta sexta-feira, 25 de abril, o Acre se une ao mundo na luta pela conscientização e prevenção da malária. A data, criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2007, reconhece os esforços globais para o controle e eliminação dessa doença que, embora curável e evitável, ainda representa um grave problema de saúde pública em regiões tropicais, como a Amazônia.
Embora o Acre figure historicamente entre os estados com tendência à incidência de malária, os indicadores epidemiológicos apontam avanços significativos no controle da doença nos últimos anos. De acordo com dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica (Sivep-Malária), entre 2020 e 2024, o número de casos autóctones caiu 52,7%, passando de 11.619 para 5.498 registros.
Entre 1º de janeiro e 15 de abril de 2025 foram notificados 1.355 casos autóctones de malária no estado, o que representa uma redução de 8,2% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram registrados 1.252 casos.
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